Quem somos...
Este blog tem a pretensão de resgatar histórias de um grupo de amigos, que na década de 70 foram muito unidos em torno de uma agremiação chamada "Clube Atlético Patropí", um time que nasceu no bairro "Menino Deus", mais precisamente na rua "Barão do Gravataí".
Que a experiência seja boa...

27 de janeiro de 2011

Quem não jogou, perdeu essa época.

As 10 regras do Futebol de Rua, o verdadeiro futebol de macho!

Postado a pedido...


1. A BOLA
A bola pode ser qualquer coisa remotamente esférica.
Até uma bola de futebol serve.
No desespero, usa-se qualquer coisa que role, como uma pedra, uma lata vazia ou a merendeira do irmão menor. 
Mas na Barão...
-Ou então, com aquelas bolas feitas de meia, na época chamava-se “carpim”, se pegava a que tivesse mais bolinha de lã (parecia que elas se procriavam), cada vez que se olhava tinha mais, apareciam quando se dormia com elas, motivo de muita bronca, volta e meia (sem rima), se achava só um pé dentro das gavetas e de novo mais bronca. Enchia-se de pano ou qualquer coisa que fizesse volume que era para estufá-la, depois dava um monte de voltas (elas eram muito flexíveis), para que ficassem bem firmes e pronto, estava confeccionada mais uma pelota, dependendo do tamanho e do enchimento, pesava um horror, tinha que se cuidar para não machucar o pé ao chutar e quando o enchimento não era suficiente, elas ficavam molengonas e o chute não tinha direção, mas isso não tinha importância nenhuma. E quando não tinha mais jeito, lá ia o Sérgio comprar uma bola nova, problema resolvido.

2. O GOL
O gol pode ser feito com o que estiver à mão: tijolos, paralelepípedos, camisas emboladas,
chinelos, os livros da escola e até o seu irmão menor. 
Mas na Barão...
- Travessão não existia e quantas broncas por causa disso, sempre tinha um Manduca ou Borja pra dizer que a bola foi muito alta ou passou pelo lado, era o que faltava para virar tumulto, claro que o reclamante era sempre o perdedor e nessa zoeira toda, lá vinha o Sérgio tentando apaziguar a coisa toda (separando no empurrão na porrada, valia tudo) ou o Capistana que nem sabia o que tava acontecendo mas queria fazer “bolo”, o Pala xingava de longe, os baixinhos só na torcida, esfregando as mãos loucos por "um treme"  era como se chamava uma pancadaria naquela época.

3. O CAMPO
O campo pode ser só até o fio da calçada, calçada e rua, rua e a calçada do outro lado e,
nos grandes clássicos, o quarteirão inteiro. 
Mas na Barão...
-Sem contar os estádios clássicos, o “Arena Praça Garibaldi” o “Monumental Merdão” o ”Estádio do Grillo”, tínhamos até campo suplementar “a rampa do Mercado de Hortifrutigrangeiros da Praça Garibaldi” (que nome pomposo), se todos estes estádios estivessem ocupados com algum "campeonato", tínhamos ainda a frente da casa do Neco, ali era perigo por todos os lados, sabe aquela coisa que tem tudo pra dar errado, era alí, mas nós sempre fomos corajosos, se chutássemos em direção a parede da casa da dona Maria, corria o risco de um desabamento do “imóvel”, e quando acontecia de acertar o chute (sempre tinha um para acertar), só se ouvia o “mobiliário” despencando lá dentro, bem, não tinha como isto não acontecer apesar de todas as precauções já que a goleira era marcada nas tábuas da parede da casa, quando a janela estava aberta o cuidado (mas não muito) era de não mandar a bola lá dentro, quando então, acontecia um “sinistro”, o mediador e porta voz com a dona Maria era o Sérgio, que ia com aquela voz mansa (por falar nisso, lembram do FALA FINA, irmão do MARCIANO?) tentar convencer de que não foi nada, mas como a dona Maria não enxergava direito e muitas vezes ela nem sabia o que estava acontecendo, deixava prá lá ou então dizia... cuidado pra não bater na parede. Dizem que ela tinha um santinho “Santo Antônio”, que com um chute voou pra dentro do açougue, seu Antônio achou e botou este nome no açougue, não sei se é verdade, “só sei que foi assim” (alguém já falou isso).

4. DURAÇÃO DO JOGO
O jogo normalmente vira em 5 e termina em 10, pode durar até a mãe do dono da bola chamar ou escurecer. Nos jogos noturnos, até alguém da vizinhança ameaçar chamar a polícia. 
Mas na Barão...
-Na Barão não era diferente, a não ser quando estava anoitecendo, sempre acontecia de alguém perguntar “cadê o fulano”, o cara simplesmente sumia, desaparecia, a impressão era de que tinha sido abduzido, mas este foi o primeiro, logo após era outro e outro, o jogo que começou com 15 pra cada lado, terminava em futebol sete, o placar nunca fechava, um dizia que foi 12 a 9, o outro retrucava, não 12 a 10, já entrava outro dizendo, não foi 12 a 11, não fazia a menor diferença, mas não podia faltar a discussão, isto era mais importante do que as jogadas da partida.

5. FORMAÇÃO DOS TIMES
Varia de 3 a 70 jogadores de cada lado.
Ruim vai para o gol. Perneta joga na ponta - esquerda ou à direita -, dependendo da perna
que faltar. De óculos é meia-armador, para evitar os choques. Gordo é beque. 
Mas na Barão...
-Lá vamos nós jogar bola no antigo mercado da Praça Garibaldi, na rampa de ladrilho junto aos coqueiros, pedras e aquelas plantas com folhas pontiagudas e cheias de espinhos. Na escolha dos times, o Tião ficava de canto, se fazendo, era o “balaqueiro”, sempre um dos primeiros a ser chamado, gostava de jogar sempre com o Sérgio (nunca soube por que), tinha ainda Dídi, que pelo tamanho também era um dos primeiros a ser escolhido, o Melinho pela técnica e por aí vai, se eu ficar nominando, vou esquecer alguém com certeza, mas não vou deixar de falar no Cesário, sempre por ali, esperando para ser chamado, com o cabelão no meio das costas de tão comprido, o Babado quando jogava era uma figura a parte, quando ia dar um drible, virava a mão e encolhia o braço (tipo nadando cachorrinho), mas jogava bem, tinha um futuro promissor de “balaqueiro”.

6. O JUIZ
Não tem juiz.
Mas na Barão...
-Tinha sim. Na verdade era o mesmo que não, pois o candidato não “apitava” nada, isto é, ninguém obedecia o que o juiz marcava, e não adiantava ele querer se impor, bastava um “Tio ou Borja” dizer –Não foi nada disso, ou foi sim,  para desmoralizar o árbitro e o jogo continuar a ser do jeito que sempre foi, o único apito que todo mundo respeitava era para rolar a bola do centro do campo.

7. AS INTERRUPÇÕES
No futebol de rua, a partida só pode ser paralisada em 3 eventualidades: a) Se a bola entrar por uma janela. Neste caso os jogadores devem esperar 10 minutos pela devolução voluntária da bola. Se isso não ocorrer, os jogadores devem designar voluntários para bater na porta da casa e solicitar a devolução, primeiro com bons modos e depois com ameaças de depredação.
b) Quando passar na rua qualquer garota gostosa. c) Quando passarem veículos pesados. De ônibus para cima. Bicicletas e Fusquinhas podem ser chutados junto com a bola e, se entrar, é Gol.
Mas na Barão...
-Mas na Barão as interrupções eram muito mais do que se imagina, lembram do baixinho (Time), acho que era (Alfredo), sofria de epilepsia, pois é, volta e meia dava um ataque nele e  dependendo do estado tinha que parar o jogo e ir socorrê-lo, pois o cara ficava estendido no chão, era aquela correria, todo mundo sabia o que fazer, mas ninguém fazia nada, não tomavam a iniciativa. Pois bem, Alfredo recuperado, continuava o jogo. Outra que dava o que falar era quando o seu Ari chegava em casa, já vinha chutando a bola pra longe, xingando um, ameaçando outro, era aquele “esparramo” até ele entrar, ai vinha um, outro e se cuidando, começava o jogo.
Quando passavam as figurinhas folclóricas da Barão, tipo Mijijeba (é assim que se escreve?), Primo, que quase sempre vinha “mamado” querendo chutar a bola, tinha também o Gilmar, este era “hours concours”, sempre que chegava bagunçava mesmo, saía correndo atrás do que estivesse mais perto, a bola ou o jogador, mas o que mais metia medo era o “camburão”, quando passava mudava o semblante das caras, acho que até paravam o jogo, naquele tempo só o Capistana (doido né) pra enfrentar os brigadianos.
  
8. AS SUBSTITUIÇÕES
São permitidas substituições nos casos de:
a) Um jogador ser carregado para casa pela orelha para fazer lição.
b) Jogador que arrancou o tampão do dedão do pé. Porém, nestes casos, o mesmo acaba voltando à partida após utilizar aquela água santa da torneira do quintal de alguém.
c) Em caso de atropelamento. 
Mas na Barão...
-Estas sempre foram tranqüilas, com exceção de quem ficava de fora que invariavelmente era o mais fraquinho ou o mais ruinzinho, ou então de quem estava saindo (ou melhor, quase sempre tirado), este era amigávelmente conduzido até a beirada da “quadra”, com tapinhas nas costas, tipo “sai agora meu amiguinho”, aí entrava o cara que chegou atrasado, e quase sempre era o “boleiro”, não tinha como dizer que não, pois todos ficavam te olhando com uma cara... mas era tranqüilo.

9. AS PENALIDADES
A única falta prevista nas regras do futebol de rua é atirar o adversário dentro do bueiro. 
Mas na Barão...
-Por falar em penalidades, como éramos estúpidos, chutar pênalti a três metros de distância, e pior ainda, com goleiro, o cara tinha que ser doido, caso defendesse o chute era um hematoma do tamanho da bola (pior se ela fosse de plástico chupava o sangue), e levava uma semana pra dar uma “melhorada”. A falta, até chegar a um consenso, lá se foi metade da tarde, pois a discussão era grande, depois continuava para saber quem cobrava.

10. A JUSTIÇA ESPORTIVA
Os casos de litígio serão resolvidos na porrada, prevalece os mais fortes e quem pegar uma pedra antes... 
Mas na Barão...
-Ou o Sérgio levar a bola pra casa...

11. A CONCENTRAÇÃO DEPOIS DO JOGO na Barão...
.-Acho que faltou esta regra, que todos deveriam seguir, pelo menos do nosso jeito, do jeito da Barão, depois de tudo isso, um monte de briga, algumas porradas, hematomas por todo o lado, eventualmente uma “unha” esquecida na praça, uma tarde extenuante de jogos na praça ou onde quer que fosse, um calor de 40º na cabeça, muitos esfolados do “areião” e algumas camisetas perdidas, terminávamos tudo numa “bebedeira” em frente ao seu Antônio, eram litros e mais litros de Guaraná, Coca, Pepsi e Tônica, nunca ninguém ficou em “coma”, mesmo assim acidentes aconteceram, o caso do Marquinhos que numa concentração destas um transformador explodiu no poste e caiu um pedaço de metal na mão dele, e ...  bem isto é outra história.


Aqui embaixo alguns dos pedidos e lembranças

Sérgio disse -Mas é bem isso mesmo! É o resumo da coisa, o cerne. Vamos socializar isso!
Babado disse -Isto me levou aos jogos da quatro jacos... meleca manda pros outros ou quem sabe postamos no blog... Cesario isto deu saudades.!!!
Bira disse -Véio boró, lendo o texto lembrei dos jogos na Barão, bons tempos.
Bira
Cesário disse -Meu Irmão Babado
Que loucura ler isso, me veio a mente tudo aquilo lá trás, que saudades.